Pages

domingo, 31 de maio de 2009

Angra, Holy Land e o folk-progressive-metal

A música amazonense de Nilson Chaves. O metal progressivo característico da banda. Uma pitada da música clássica de Bach. Esses eram os ingredientes para se fazer um álbum perfeito. Mas André Matos acidentalmente acrescentou um elemento extra na mistura: a vocalização do J-Rock. E assim nasceu Holy Land, segundo álbum da banda brasileira Angra, lançado em 1996 na Alemanha.


Capa frontal do CD, que ao abrir-se revela um mapa do século XVI

A banda, que só canta em inglês, foi formada em 1991 em São Paulo, e segue a linha do metal progressivo, um estilo menos pesado de metal, que combina toda aquela parafernália do rock (guitarra, baixo, bateria) com instrumento mais suaves, pendentes para o clássico, como os de sopro. Holy Land é um álbum conceitual que conta a história do Brasil desde o seu descobrimento, descrevendo por entre suas canções, ora agitadas, ora calmas, a vida no país naqueles séculos. Todas são tão incrivelmente fantásticas que é impossível definir a melhor, e me senti na obrigação de analisá-las uma por uma.

1 - Crossing
Essa na verdade é uma missa de Giovanni Pierluigi da Palestrina, um importante compositor italiano da época da renascença, e representa a 1ª missa realizada em solo brasileiro.

2 - Nothing to Say
Continuação direta da 1ª faixa, nesta música já se percebe a influência de música clássica da banda, com a presença de violinos, além das guitarradas geniais de Rafael Bittencourt. O metal progressivo é marcado pelo ritmo, ditado pelo combo guitarra + baixo + bateria, que ora cresce e ora diminui.

3- Silence and Distance
Com uma suave introdução de piano e flauta que subitamente muda para guitarra e bateria, esta música conta com a vocalização bem característica do metal - aquela que deixa o cantor implorando por um expectorante. Novamente Rafael Bittencourt deixa sua marca, brindando-nos com sua guitarra. Após isso tudo, a música volta novamente para o piano, encerrando-se num tom melancólico.

4 - Carolina IV
Sem dúvida uma das melhores faixas do disco, Carolina IV combina tudo o que a banda misturou pra fazer esse álbum maravilhoso: guitarra, baixo, bateria, flauta e vocalizações auxiliares (em português!). Com grande influência de música brasileira, a música conta inclusive com um trecho puro de música amazonense, acompanhada por um tímido metal, que sabe que não pode competir, mas que logo depois entra em sua melhor forma, incluindo até mesmo piano em sua composição. Nota também para o trabalho do baixista, (músico mais injustiçado de uma banda, por estar sempre no fundo da guitarra e não ser percebido) Luís Mariutti.

5 - Holy Land
A música homônima do álbum é sem dúvida uma obra-prima de André Matos, seu compositor. Combinando piano, guitarra e baixo a flauta, chocalhos e tudo a que os músicos descendentes de índios têm direito, Holy Land nos embala num divertido ritmo folclórico, para então nos jogar nos braços de Bittencourt, de volta à pacata Amazônia, Bittencourt novamente e Amazônia + Bittencourt! Não é maconha, mas é uma viagem.

6 - The Shaman
Com a aura mais negativa do disco, essa música é linda em sua composição maléfica e progressiva, e abre espaço até mesmo para o depoimento de um pajé, falando, como o título sugere, dos rituais "xamânicos" (o termo correto seria "pajelança") praticados por índios brasileiros antes da chegada dos portugueses. Sinistramente linda. Ou lindamente sinistra.

7 - Make Believe
Indiscutivelmente digna de destaque, Make Believe tem a introdução mais linda e envolvente do disco. Com influências da MPB (marcadas pelo uso de outro instrumento de corda que não a guitarra e o baixo), André Matos fez um ótimo trabalho como vocalista aqui. Bittencourt, sem comentários.

8 - Z.I.T.O
Introdução com tambores inusitada; nosso mestre Rafael faz incrível aparição aqui também. A letra, que fala da vida humana in natura ("Mother nature brings to me, in fantastic purity, everything I need"), somada à melodia animada até nos faz perdoar a errata de pronúncia de Matos logo no início da música ("there's something shing back", ao invés de shing back). Pequena referência ao primeiro álbum da banda, Angel's Cry (sobre a qual meu próximo post será), pode ser ouvida aqui. A propósito, guitarradas de Bittencourt >>>² Chimbinha. Mas isso você já sabia.

9 - Deep Blue
A música que dá nome ao blog é a mais marcada pelo classicismo do disco. Órgão e corais de igreja podem ser ouvidos aqui. A própria letra da música (clique aqui) já fala dessa ligação da banda com a renascença europeia. Linda de verdade. Rafael faz uma pequena porém belíssima ponta aqui, para sumir de vez na 10ª (e última) faixa.

10 - Lullaby for Lucifer
Aqueles menos afeiçoados do metal devem ter lido esse título e pensado: "Puta merda, lá vem barulheira". Mas não. Apesar do nome, Lullaby for Lucifer é a música mais serena do disco. Só a título de encerramento mesmo, feita com violão, sons de ambiente e aura melancólica. Uma curiosidade é a pronúncia da palavra "apples" (épples ao invés de êipples), feita por André Matos, que denota seu aprendizado britânico, e não estadounidense, da língua.


Banda de metal, cabelo comprido não podia ser deixado de lado, né, gente?

A conclusão é: o álbum é simplesmente lindo. Vale a pena ser ouvido na íntegra!

Link para download:
4 Shared (Que é o melhor)

Até a próxima com Angel's Cry!

3 comentários:

  1. Ê rapá, põe uns discos do Dire Straits aí, pô! Esse negócio de Angra não tá com nada!

    Hmm... Boa a idéia (´´´´) comentar música por música... Já tinha pensado nisso, mas a preguiça faz coisas com a gente: faz a gente não fazer...

    ResponderExcluir
  2. Ei, não enche o saco, ou eu não indico o teu blog quando for falar do Jethro! Vou falar do Dire Straits sim, assim que postar o Angel's Cry.

    É, preguiça é terrível. Não sei se vou fazer isso de novo.

    ResponderExcluir
  3. Ducaralho.. mas percebi que você não dá muito destaque ao Kiko né.. haha.

    ResponderExcluir